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O Conto da Bixa: resistência, autodescoberta e transformação

O Conto da Bixa é uma obra dirigida por Karvalio e estrelada por Stella de Eros, que também assina o roteiro. Este documentário performático baseado na cultura Ballroom transcende a narrativa tradicional, ao unir videodança e performance para contar uma história envolvente de resistência, autodescoberta e transformação. Repleto de simbolismo, explora com sensibilidade as complexas relações familiares e as questões de identidade de gênero, proporcionando uma experiência profundamente impactante.

Ao longo de seus 11 minutos, o curta-metragem convida o espectador a mergulhar no universo íntimo de uma pessoa trans, abordando temas como violência, preconceito, identidade e a fascinante cultura Ballroom, originada nas comunidades negra e latina LGBTQIAPN+ nos Estados Unidos, especialmente em Nova York, a partir do final do século XX. Ela surgiu como um espaço de acolhimento, expressão e resistência para pessoas marginalizadas, particularmente pessoas trans e não-binárias, gays e lésbicas, que enfrentavam preconceito, pobreza e exclusão.

Dentro da Ballroom, acontecem os balls, eventos performáticos onde os participantes competem em diferentes categorias de dança, moda e performance. O voguing, estilo de dança caracterizado por poses marcantes e movimentos inspirados em editoriais de moda, é uma das formas de expressão mais icônicas da Ballroom. As competições são julgadas e realizadas em um ambiente vibrante, com música, figurinos extravagantes e coreografias expressivas.

Além de ser um espaço artístico, a Ballroom é também uma estrutura social, onde os participantes formam "casas" ou houses, lideradas por figuras chamadas de "mães" ou "pais". Essas casas oferecem suporte emocional, financeiro e psicológico para seus membros, funcionando como famílias escolhidas.

Mais que uma história fictícia, esta é a própria trajetória de Stella de Eros, cineasta e artista trans que transforma suas experiências pessoais em arte, entregando-se de forma vulnerável e visceral.

Em uma das cenas mais marcantes, Stella aparece nua, amarrada com fitas, evocando no espectador sentimentos de claustrofobia e angústia. A intenção é compartilhar uma fração da essência de sua vivência, expressando a sensação de aprisionamento e a luta para se libertar de amarras sociais e familiares. 

Mesclando as cenas das performances com depoimentos íntimos da própria Stella e áudios de sua mãe, cujas palavras refletem uma relação complexa, marcada por conflito e rejeição, vemos a dureza de ser uma pessoa trans em um país que, muitas vezes, é intolerante e violento com quem foge dos padrões cisnormativos. A falta de acolhimento e apoio no núcleo familiar é um dos aspectos mais dolorosos que o filme expõe, com uma sinceridade que toca o espectador profundamente.

Mais do que uma denúncia contra a violência e o preconceito que afetam a comunidade LGBTQIAPN+, O Conto da Bixa celebra a resiliência, a beleza e a potência das pessoas que, apesar das adversidades, continuam a brilhar e resistir. Com sua estética marcante e sensibilidade poética, o filme é ao mesmo tempo uma experiência envolvente e um alerta importantíssimo: chega de preconceito!

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