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Mostrando postagens de dezembro, 2024

Abá e Sua Banda: para mudar o mundo você não precisa ser da realeza, basta ter a semente da mudança em você

Dirigido por Humberto Avelar, Abá e Sua Banda é um longa-metragem de animação musical e aventura que mergulha os espectadores em um reino encantador, onde as frutas ganham vida com feições e personalidades humanizadas. A trama gira em torno do rei Caxi, um abacaxi de coração nobre, que, após a perda de sua esposa, a rainha Nanás, encontra-se enfraquecido e sem energia para liderar. Nesse momento de vulnerabilidade, Caxi é manipulado pelo próprio primo, Don Coco, um astuto coco que secretamente planeja se apoderar do reino e o destrói pelas sombras. Curiosamente, a voz do vilão é interpretada pelo próprio diretor, adicionando um toque especial ao personagem. O rei Caxi tem um filho, Abá, o príncipe herdeiro que carrega o peso de ser a próxima liderança, mas enfrenta um conflito interior: órfão de mãe e avesso ao destino traçado para ele, sonha em ser músico. A música, no entanto, não é apenas um capricho; é a conexão mais profunda que ele tem com sua mãe, a falecida governante, que lhe ...

Meça Três Vezes Antes de Cortar: Fragmentos. Rupturas. Pluralidade. Reflexões.

  Meça Três Vezes Antes de Cortar é uma obra que retrata um universo místico e performático, no qual bois, boiadeiros e seres encantados conduzem o espectador por uma dança simbólica, rica em tradição e espiritualidade. A narrativa é uma releitura ousada, criativa, contemporânea e artística do clássico Bumba-Meu-Boi, combinando mitologia e reflexão social com elementos da cultura popular. Em uma conversa com boiadeiros perdidos na mata, o protagonista é lembrado de uma lição fundamental: todo sangue é valioso, mas a língua é a carne mais rara de todas, simbolizando o valor da comunicação e a complexidade dos laços familiares e culturais. Enquanto na saga original Pai Francisco precisa pegar a língua do boi mais caro do patrão para alimentar sua esposa grávida, Catirina, no filme Meça Três Vezes Antes de Cortar, o protagonista enfrenta um novo desafio. Ele precisa buscar o sangue de um boi raro para salvar seu pai, revelando camadas de significado sobre sacrifício, cura e a complexi...

A Chuva do Caju: até quando teremos esse precioso fruto?

  A Chuva do Caju conta a história do Seu Alvino e da Dona Neusa, que vivem no coração de um vale escondido nas profundezas do Brasil Central. Lá, no quilombo Kalunga Vão de Almas, eles cultivam o que a terra lhes oferece generosamente, colhendo frutos nativos, como o caju do cerrado e o baru, numa prática que preserva a memória e a riqueza natural de sua comunidade. Com uma existência que parece resistir ao passar do tempo, o quilombo sobrevive há mais de dois séculos, mas hoje enfrenta uma nova ameaça: a seca cada vez mais severa, devido ao desmatamento e devastação do Cerrado, motivados pelo agronegócio. Enquanto a Amazônia recebe grande parte da atenção mundial, o Cerrado, bioma igualmente essencial, perde espaço e biodiversidade rapidamente. Hoje, apenas 30% de sua cobertura original ainda resiste no estado de Goiás. O documentário A Chuva do Caju aproveita um antigo conto dos ancestrais Kalunga sobre o fruto do caju para tecer uma narrativa profundamente tocante, que explora ...

Os Sapos: por que insistimos em relacionamentos abusivos?

Dirigido por Clara Linhart, Os Sapos, adaptação da peça homônima de Renata Mizrahi - e que já teve uma versão anterior em formato de curta-metragem de 16 minutos - é um filme tragicômico sobre relações de dependência amorosa. Aborda ainda os temas: sonhos, anseios, traições, preconceitos, misoginia e doenças. O filme se passa em um dia e uma noite numa casa de campo rústica, alugada por Luciana (Karina Ramil) e Marcelo (Pierre Santos) que, juntos há oito anos, vivem um relacionamento aberto. Seus vizinhos e amigos, Cláudio (Paulo Hamilton) e Fabiana (Verônica Reis), são aparentemente felizes. Mas, conhecendo-os um pouco mais de perto, percebe-se um relacionamento altamente tóxico. Paula (Thalita Carauta), amiga de adolescência de Marcelo, logo entende que chegou em um terreno minado. Ela decide ter um fim de semana divertido, apesar dos conflitos que causa. O filme começa leve, solar, revelando as belas montanhas de Lumiar. Assim como Paula, o espectador é introduzido numa paisagem ame...

Oração A Vácuo: orando para que não haja uma revolução das máquinas!

  Oração A Vácuo é um curta-metragem de ficção científica (meu gênero cinematográfico favorito, por sinal), que explora a relação entre humanos e máquinas em um enredo intrigante e filosófico. O filme acompanha a jornada de um robô aspirador de pó, limpador de casa, daqueles que estão se popularizando cada vez mais para nos auxiliar com a limpeza doméstica (eu inclusive tenho um, mais simples do que o do filme), que pertence à Maria, uma jovem mentalmente instável que afetuosamente o apelida de Paulinho. Como muitos desses dispositivos, Paulinho foi criado para facilitar a vida doméstica, ajudando Maria a manter a casa limpa, enquanto ela se dedica às suas aspirações, trabalho e relacionamentos, e enfrenta as aflições da vida contemporânea. Só que um dia o robô aspirador é conectado a um sinal de Wi-Fi misterioso e ganha consciência, iniciando uma jornada de descoberta e autorreflexão; se juntando a outros robôs, inclusive à Alexa da casa de Maria, que nessa trama recebeu o nome de...

O Vale Vai Descer: união, diversidade e inclusão

O Vale Vai Descer é um curta-metragem documental que mergulha na realidade de um time de handebol formado exclusivamente por homens LGBTQIAPN+. Esses atletas, anteriormente deslocados e oprimidos em times convencionais do esporte, encontram no Vale Handebol Clube um espaço seguro e acolhedor. Este time, que serve de inspiração para o título do filme, busca disseminar uma mensagem poderosa de união, diversidade e inclusão, valores que representam uma resistência contra as normas tradicionais que muitas vezes marginalizam essas identidades. O documentário, dirigido por Elisa Marques, adota uma linguagem cinematográfica mais descontraída ao misturar leveza nas entrevistas e profundidade no tema. A diretora, com um olhar sensível e atento, utiliza planos fechados e closes, criando uma atmosfera de proximidade e intimidade com as personagens. Essa escolha estética permite ao público uma imersão nas emoções e histórias dos integrantes do time, além de dar voz aos seus sentimentos e experiênc...

O Clube das Mulheres de Negócios: diversão, reflexão e catarse

O Clube das Mulheres de Negócios é ambientado em um mundo distópico (gênero de narrativa que explora sociedades fictícias e serve como uma crítica social) onde os estereótipos de gênero são invertidos. Com um senso de humor provocativo, a ação se passa em um dia de folga do Clube de Campo frequentado por poderosas mulheres de negócios: enquanto as sócias almoçam, três onças escapam do onçário e começa um jogo de negação, mentiras e ataques que acaba mal. Essa premissa me lembra muito um outro filme sobre o tema que gostei bastante - e deixo a dica para você, caso ainda não tenha assistido -, que é Eu Não Sou Um Homem Fácil, produção francesa. Com tom de sátira e muito bom humor, o filme é uma mistura entre comédia, suspense, drama e terror ácido surpreendente, e traz situações absurdas que fazem o espectador se questionar sobre as estruturas de poder vigentes, seja de gênero, classe ou do domínio do homem sobre a natureza, problematizando o machismo e classismo enraizados na nossa soci...