Lançado mundialmente no prestigioso Festival de Berlim de 2020, onde conquistou o prêmio de melhor filme da mostra Generation 14plus, "Meu Nome é Bagdá" estreou esse mês nos cinemas de todo o Brasil e também na França. O filme é protagonizado por garotas skatistas de rua da periferia da cidade de São Paulo.
A personagem título é interpretada pela skatista Grace Orsato, que vive seu primeiro papel no cinema. No elenco estão ainda Gilda Nomacce, a cantora e atriz Karina Buhr e a performer Paulette Pìnk. Além do elenco principal, "Meu Nome é Bagdá" tem também assinaturas de profissionais femininas no roteiro, direção, produção, fotografia e direção de arte.
Dirigido por Caru Alves de Souza e produzido por Rafaella Costa para a Manjericão Filmes, "Meu Nome é Bagdá" já foi selecionado para mais de 60 festivais internacionais, realizados na Europa, América do Norte, América Latina, Ásia e na África, e acumula mais de 14 premiações em eventos no exterior, entre elas a de melhor filme e melhor direção no Nordic International Film Festival, de Nova York; melhor filme pelo júri jovem do Gender Bender Festival, de Bolonha (Itália); melhor filme latino-americano no Festival de Cine Latinoamericano de La Plata (Argentina); prêmio do público no Cormorán Film Fest (Corunha, Espanha); e de melhor atriz - para Grace Orsato - e menção honrosa para o elenco feminino no Festival de Cine de Lima PucP (Peru).
Confira a nossa crítica do filme aqui e a entrevista com a diretora Caru Alves de Souza e a atriz Grace Orsato a seguir:
Entrevista com a diretora Caru Alves de Souza
Nascida em 1979 na cidade de São Paulo, a diretora, roteirista e produtora Caru Alves de Souza é formada em História pela USP. Dirigiu, entre outros, o curta-metragem "Assunto de Família" (2011), exibido em mais de 40 festivais ao redor do mundo. Seu longa de estreia, "De Menor" (2013), foi eleito como melhor filme da Première Brasil do Festival do Rio. Seu próximo longa é "Corações Solitários", centrado em uma protagonista que tenta preservar um decadente cinema pornô no centro da cidade de São Paulo.
Mais Filme: Como surgiu a ideia do filme?
Caru Alves de Souza: O filme é livremente inspirado no livro infanto-juvenil "Bagdá, o skatista" de Toni Brandão. No livro o protagonista é um menino skatista que vive na periferia de São Paulo. Ao longo do desenvolvimento fui percebendo que queria fazer um filme desde a perspectiva de uma menina, foi daí que Bagdá se transformou em uma skatista. Nos primeiros argumentos após essa mudança, a história de Bagdá estava mais centrada em sua luta para se estabelecer em um ambiente predominantemente masculino, mas nos anos anteriores à filmagem fui percebendo o crescimento do skate feminino e quando conheci Grace, a Giulia, a Luh e as outras meninas do filme percebi que havia um coletivo de meninas skatistas muito fortalecido e não queria deixar isso de fora. Assim, a história de Bagdá se centrou mais no encontro dela com outras meninas skatistas e com as outras mulheres de seu entorno.
Mais Filme: Quem te inspirou a criar a personagem Bagdá?
Caru Alves de Souza: Acho que Bagdá é um encontro de muitas mulheres que me inspiraram ao longo da minha vida e que me inspiram até hoje, mulheres anônimas e reconhecidas.
Mais Filme: Por que optou por usar atores não profissionais e não atores?
Caru Alves de Souza: Eu não queria fazer um filme sobre skatistas, mas sim com skatistas e isso faz uma grande diferença. Ao longo do desenvolvimento do projeto até a hora de montar, troquei muita ideia com skatistas e com os próprios atores e atrizes do filme, a maioria deles e delas skatistas na vida real, para construir a história e as personagens. Fiz isso inclusive com o elenco não-skatista do filme, composto por atrizes e atores profissionais do teatro, cinema, TV e performers. Após os ensaios reescrevemos o roteiro a partir das improvisações que fizemos e discutimos cena a cena o que fazia sentido e o que não fazia sentido. Mais que um olhar meu sobre o skate, ou sobre a realidade de um grupo de mulheres e homens da periferia, eu acho que "Meu nome é Bagdá" é um encontro de muitas realidades diversas que se juntaram para fazer o mesmo filme.
Mais Filme: Você imaginou que Meu Nome é Bagdá estaria tendo tanta repercussão e ganhando tantos prêmios, inclusive fora do Brasil?
Caru Alves de Souza: A gente sempre almeja o reconhecimento, mas é sempre uma incógnita se ele vai chegar ou não. Uma surpresa muito linda que tive foi a receptividade do público jovem no mundo inteiro, isso foi muito massa.
Mais Filme: Você tem dicas para quem quer produzir filmes no Brasil em um momento que o País está tão defasado na área e no incentivo ao cinema e à cultura?
Caru Alves de Souza: Uff... hoje em dia com o sucateamento e destruição das instituições públicas de fomento à cultura, promovidos principalmente pelo (des)governo federal, está muito difícil de dar qualquer dica. Eu poderia ser romântica e dizer para as pessoas fazerem filmes no estilo DIY (Do it yourself - Faça você mesmo) mas eu acho isso um retrocesso quando já tínhamos políticas públicas para o cinema estabelecidas. A dica que eu daria é para as pessoas voltarem a se reunir em suas associações, grupos, coletivos para lutar pela volta de políticas públicas para a cultura. E pensar melhor em quem votar nas próximas eleições. Fora Bolsonaro!
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