O Festival de Cannes voltou a acontecer em sua versão presencial, nesta terça-feira, 6 de julho de 2021 e vai até o dia 17, em sua 74ª edição. No ano passado, o evento, tradicionalmente realizado em maio, foi em outubro com uma versão reduzida e virtual por conta do Covid-19. E este ano, mesmo com restrições, protocolos sanitários e público reduzido, a expectativa para o retorno da cerimônia presencial está alta.
A maior novidade é que os filmes estão sendo exibidos em telões à beira mar, na praia de Macé da Croisette. Além disso, só quem apresenta teste negativo para o novo coronavírus pode participar. Com isso, a estimativa de público total para essa edição do evento é de 28 mil pessoas, sendo que antes da pandemia, reunia em torno de 40 mil participantes. Porém, as festas com as celebridades estão acontecendo, também com todos os protocolos de segurança.
E, dentre os títulos com maiores chances de serem premiados estão o novo filme da franquia “Velozes e Furiosos” dirigido por Sean Penn, “Ter Piani”, do italiano Nanni Moretti e “Memory”, tailandês Apichatpong Weerasethakul, estes últimos já conquistaram a Palma de Ouro em 2001 e 2010, respectivamente.
A produção de Weerasethakul aborda os grupos paramilitares Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) nas décadas de 1970 e 1980, e “Memory” tem a participação da consagrada atriz Tilda Swinton, que também está em outro longa concorrente “The French Chronicle”, dirigido por Wes Anderson.
Há também grandes apostas em dois filmes com a francesa Léa Seydoux, sendo eles “A História de Minha Esposa”, da húngara Ildikó Enyedi, e “França”, de Bruno Dumont. E o japonês “Drive My Car”, de Ryusuke Hamaguchi, também integra essa lista.
Dentre as promessas brasileiras estão “Medusa”, de Anita Rocha da Silveira, que participa ainda da Quinzena dos Realizadores, e as coproduções “O Empregado e o Patrão”, do uruguaio Manuel Nieto Zas, e “Murina”, da croata Antoneta Alamat Kusijanovic, com produção de Rodrigo Teixeira, que também produziu o longa francês “Bergman’s Island”, de Mia Hansen-Love.
E, o nosso maior destaque, orgulho brasileiro, é o diretor Kléber Mendonça Filho, que integra o júri ao lado de Jessica Hausner (Áustria), Mélanie Laurent (França), Tahar Rahim (França) e Song Kang-ho (Coreia do Sul), Mati Diop (Senegal), Mylène Farmer (Canadá) e Maggie Gyllenhaal (EUA). E o que me deixou mais feliz foi a forte presença de mulheres diretoras no júri, sendo 5 entre 9.
A história de Kléber Mendonça Filho com o Festival de Cannes já é antiga. Como crítico compareceu diversas vezes ao festival, sendo a primeira participação em 1999, pelo Jornal do Commercio do Recife. Em 2005 exibiu o curta-metragem "Eletrodoméstica" na Quinzena dos Realizadores. E em 2017, comandou o júri da Semana da Crítica, mostra paralela de Cannes.
Além disso, é o único latino-americano que disputou a Palma de Ouro desde 2016, com as suas produções "Aquarius", e "Bacurau", que venceu o Prêmio do Júri de 2019 em um empate com o francês "Os Miseráveis".
O Presidente do Júri de 2021 é ninguém menos que Spike Lee, cineasta consagrado por longas como “Infiltrado na Klan” (2018) e “Malcoln X” (1992), dentre outros grandes sucessos. E Lee já abriu a primeira noite do festival militando ao afirmar que o nosso Presidente, Jair Bolsonaro é um gângster, acompanhado por Donald Trump e Vladimir Putin.
Kléber Mendonça Filho também deu declarações sobre Bolsonaro no evento, denunciando o governo pelas mais de 500 mil mortes em decorrência do Covid-19 no Brasil, e criticou ainda o desmonte do setor cultural brasileiro, e o fechamento da Cinemateca Brasileira, que detém mais de 90 mil títulos.
Não é de hoje que o cineasta milita contra o atual governo e deixa claro em suas críticas e produções, com um cinema social com toques de fantasia, principalmente com o seu último filme, "Bacurau", um grito de resistência ante Bolsonaro.
O Festival de Cannes mal começou e já está causando alvoroço na arte e na política mundial, um frescor, um sopro de otimismo que tanto estávamos precisando. Façam as suas apostas.
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