Após
produzir filmes de sucesso como Memento, Amnésia, O Grande Truque, A Origem e a
trilogia Batman, Christopher Nolan agora nos presenteia com Interestelar (Interstellar, 2014).
Apesar
de não entender nada de física quântica, compreender muito pouco a teoria da
relatividade, leis da gravidade e Lei de Murphy, e ter saído do cinema atordoada,
com a cabeça fritando, tentando digerir mais uma ficção científica do diretor,
com mensagens além do que a obra aparenta realmente querer demonstrar, digo que
a primeiro momento não concordo totalmente com posts negativos e de ódio que vi na
minha timeline do Facebook e por aí na internet.
O
filme é sim um tanto arrastado, demorado (tem quase três horas de duração), com cenas que
poderiam ter sido cortadas ou encurtadas, e é bem “frito”, com elementos que
mais parecem uma alucinação de Nolan após o uso de drogas, porém eles são necessários
para o significado maior da história.
Interestelar
é o projeto mais ambicioso do diretor, que se passa alguns anos no futuro da
Terra, ao que dá a entender a mais ou menos duas gerações à frente da nossa,
que retrata a extinção do nosso planeta, ele simplesmente está morrendo, os
recursos estão acabando. O enredo não deixa muito claro como e por que isso
aconteceu e nem se aprofunda muito nisso, pois não é o seu foco.
O engenheiro espacial Cooper (Matthew McConaughey) trabalha como fazendeiro cultivando milho para alimentar a população
mundial. A maioria dos alimentos da Terra já acabaram e as plantações que
restam são constantemente atacadas por pestes e tempestades de poeira. Ao lado
dos dois filhos, - a menina muito inteligente e esperta
Murphy e Tom, que sonha em ser um bom fazendeiro como o pai - e do sogro (vivido pelo ótimo John Lithgow), ele vive simplesmente, mas se incomoda com o fato da humanidade
ter se contentado em sobreviver e esquecido seu lado empreendedor.
Com
a ajuda da filha, Cooper acha a base secreta da NASA e é escolhido para ser o
piloto de uma difícil jornada em busca da salvação da raça humana e tem que arcar
com o maior sofrimento de sua vida: ficar longe de sua família.
Cooper
e a equipe de cientistas e astronautas partem em uma difícil busca de um novo
planeta que seja habitável para os humanos, sendo três o número de planetas em
potencial.
Porém,
na verdade, a história de salvação de toda a humanidade é o pano que cobre a
verdadeira intenção de Nolan, que é abordar a relação de problemas familiares,
a relação de pais e filhos, mais especificamente de Cooper e sua filha, Murphy,
e o afastamento familiar em prol de um bem maior e de um trabalho grandioso.
Os
anos no espaço e nos outros planetas são muito diferentes dos da Terra,
passando bem mais devagar, em alguns o dia tem 67 horas, e para atravessar as
galáxias costuma-se avançar uns 50 anos do tempo daqui. Portanto, à medida que
a missão avança, Cooper se dá conta de que é impossível recuperar o tempo
perdido com sua família. Essa é a verdadeira história, bonita e comovente, -
apesar dos percalços - para quem consegue ter a sensibilidade de enxergar sobre
essa ótica.
McConaughey está incrível em sua atuação,
emocionando a todos com suas expressões de nostalgia, sofrimento e heroísmo
após o afastamento de sua família e os percalços da missão. Ele tem uma química muito boa com a jovem
atriz Mackenzie Foy, que dá vida à Murphy, quando criança. A
garota está incrível, e mostra o quanto evoluiu desde que interpretou a filha
de Bella Swan e Edward Cullen em A Saga
Crepúsculo: Amanhecer. Jessica
Chastain, sempre ótima, vive
Murphy quando adulta, enquanto que Anne Hathaway mostra porque é uma diva e musa do cinema,
esbanjando força e naturalidade como a Dra. Brand. O elenco conta ainda com as
presenças de Michael Caine, Casey Affleck (sim, ele é irmão do Ben Affleck), Ellen Burstyn, Topher Grace, Wes Bentley e Matt Damon, todos com excelentes atuações. Um elenco de peso para uma
grande ficção.
O longa faz muita referência às
teorias que citei acima e ao
monolito de 2001, com
os robôs TARS e CASE - que roubam muitas das cenas - , além do filme 2001 - Uma
Odisséia no Espaço, em que Nolan, por ser um grande fã, faz uma
homenagem ao cinema de Stanley Kubrick e à obra de Arthur
C. Clarke, mas o espectador deve evitar entrar em maiores comparações entre
as produções, afinal estamos falando de um dos maiores clássicos da história da
ficção científica. Interestelar é
um filme que merece seu próprio espaço nas ficções científicas do século XXI,
sem ficar sofrendo com comparações indevidas e absurdas. Outra homenagem feita pelo diretor é a Carl Sagan, que fica por conta de uma derramada declaração de amor à ciência,
aliando filosofia e conhecimento científico em valor a humanidade. Percebe-se, portanto que não é
uma obra de fácil compreensão. Para mim, o final é que “estraga” o
longa-metragem, que antes fluía bem, mas não vou comentar mais sobre ele para
não dar spoiller.
Outros pontos altos são a direção de arte e o design
minucioso, mas a inovação em filmes desse gênero ficou por conta do som, que
ousou em representar o completo silêncio do espaço e fugiu dos errôneos clichês sonoros hollywoodianos - como comprovado pela ciência o som não se propaga no espaço.
O
que podemos concluir é que Chistopher fucking Nolan (hehe, o cara é foda!) não
procura dar respostas e sim, fazer questionamentos e nos levar a reflexão. Para
você, o que é mais importante: abrir mão de sua família por uma obra maior para
a humanidade, mas ao mesmo tempo, o que existe nesse mundo que possa ser mais
importante do que a família?
P.S.:
Espero que um dia a humanidade alcance um nível de evolução tão grande como o
abordado no filme. Quem assistir irá entender.
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