Acho muito limitado analisar o filme Se eu Ficar
(If I Stay, 2014) como um concorrente
direto de A Culpa é das estrelas, e taxa-lo como apenas mais um drama romântico
adolescente, como em muitas críticas que vi por aí. A trama vai muito além, tem tantos pontos a ser pensados e refletidos, tanta
coisa que você traz pra própria vida...
Assim como asseguraram Chloë Grace Moretz, que dá vida a protagonista
Mia Hall – e que mais uma vez mostra o seu talento e potencial como uma
brilhante atriz de hollywwod -, e o diretor R.J. Cutler, a adaptação ao cinema
do romance homônimo de Gayle Forman não é apenas mais um drama adolescente. A roteirista Shauna Cross
consegue realizar um trabalho excepcional de roteiro adaptado; este é pensado
de forma a preencher todas as lacunas que o livro possui.
Ainda não houve subversão do gênero, porém o filme é metalinguístico
misturando cinema, música e vida. A paixão da protagonista Mia Hall pelo seu violoncelo e pelo
perfeccionismo é abordada como metáfora para outros campos de sua vida e para
lidar com a adolescência e com o seu futuro. O amor do casal acontece de forma
muito natural, o romance flui naturalmente, como na vida. Não representam e
iludem com um amor épico, impossível e perfeito.
Nós conhecemos toda a
história através dos olhos da protagonista Mia, que possui uma visão do
mundo como a de muitos jovens: sonhos, dúvidas, paixões, amores, amizades
intensas, dramas e dilemas. O espectador embarca em uma estrada de emoções
variadas a todo instante e pode se identificar com grande parte dessa
trajetória.
Mia vive um dilema de vida ou morte – após um grave acidente de carro
que sofre com sua família -, e então precisa decidir se fica e enfrenta uma
difícil realidade ou se segue o curso natural dos eventos. Na experiência fora
do seu corpo em coma, ela relembra suas dúvidas em relação ao amor, família e à
vida adulta enquanto encara o medo constante de se arriscar.
Um dos pontos altos da obra são os personagens (em torno da
protagonista). Os divertidos pais roqueiros (Joshua Leonard e Mireille Enos)
contrastam com a necessidade da violoncelista clássica por controle e dão a ela
bons conselhos, que são transmitidos a nós espectadores como lições grandiosas
e fantásticas de vida, possuem uma força cênica impressionante e fazem um
contraponto interessante na história, enchendo a tela de comicidade com ótimos
diálogos, a amiga Kim (Liana Liberato) ajuda
a mocinha a sair da sua zona de conforto, o avô (Stacy Keach) dá peso às suas
escolhas, o irmão Teddy (Jakob Davies) desperta seu lado tênue e o namorado Adam (Jamie
Blackley) faz uma excelente atuação tanto como par romântico de Chloe, como um
rockstar em ascensão. O rapaz foi escolhido justamente por ter mais experiência
como músico e não como ator, o que ainda lhe dá mais mérito por sua
performance.
A música clássica contrapondo e, ao mesmo tempo, complementando o rock
são elementos essenciais para estabelecer a relação de Mia com o mundo e suas
questões existenciais. Enquanto ela respira Ludwig van Beethoven, seus pais são
apaixonados por Iggy Pop e seu namorado adora sons como “I Wanna Be Sedated”. As
referências musicais são críveis e amarram a narrativa, não são apenas menções
aleatórias, aumentando a credibilidade do longa. Moretz equilibra bem
delicadeza e força, coloca nuances em sua personagem, garantindo veracidade e
profundeza de sensações ao empunhar um violoncelo.
A inflexão da linearidade do
roteiro transforma o ritmo da história, prendendo o espectador a história. A
vida é uma grande bagunça, uma eterna arte de saber andar na roda gigante.
“Às vezes, você faz escolhas na vida e, às vezes, as escolhas fazem você”.
Assista ao filme, reflita e com certeza terá uma nova visão sobre a vida.
Comentários
Postar um comentário